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ARQUIBANCADA RESTRITA

A elitização do futebol a partir da alta no valor dos ingressos e da transformação de estádios em arenas 

A paixão pelo futebol

A paixão do brasileiro pelo futebol é mais do que uma simples admiração por um esporte. 

 

Para muitos torcedores, o futebol vai além do entretenimento, é uma fonte inexplicável de emoções que variam entre a euforia das vitórias e a tristeza das derrotas. Torcer por um time é como pertencer a uma comunidade e a identificação com um clube cria um sentimento de pertencimento em que a vibração, as expectativas e as frustrações são compartilhadas por todos já que o fator de união é um só.

 

Marcel Diego Tonini, que é doutor e mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e desde 2021 trabalha como Pesquisador sênior do Centro de Referência do Futebol Brasileiro do Museu do Futebol, identifica que o rádio e o surgimento do jornalismo esportivo tiveram um papel crucial na massificação do futebol no Brasil, contribuindo para transformar o esporte em um fenômeno cultural de alcance nacional.

 

Com a popularização do rádio nas décadas de 1930 e 1940, o futebol passou a ser transmitido para um público muito mais amplo e que antes não tinha acesso direto aos jogos, especialmente em áreas afastadas dos grandes centros urbanos. A narração das partidas ao vivo com a emoção dos locutores esportivos criava uma experiência envolvente para os ouvintes e mesmo aqueles que não podiam estar presentes no estádio conseguiam se sentir parte do espetáculo, o que aumentou consideravelmente o número de torcedores e o interesse pelo esporte.

 

Por conta do jornalismo esportivo e do surgimento de programas de rádio especializados, de colunas esportivas em jornais e revistas, e mais tarde, da televisão, o alcance do futebol foi ampliado. Esses meios de comunicação não apenas informavam sobre resultados e classificações, mas também criaram narrativas e heróis, construindo o imaginário em torno dos jogadores e clubes. O futebol deixou de ser apenas um jogo e passou a ser parte do cotidiano das pessoas, alimentando debates e discussões em bares, praças e dentro dos lares brasileiros.

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A massificação do futebolMarcel Diego Tonini
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Com o tempo, o cenário de popularidade mudou. A elitização dos estádios nas últimas décadas devido ao aumento no valor dos ingressos tem afastado o torcedor comum e transformado o futebol em um entretenimento de luxo acessível apenas a poucos. O vínculo afetivo, que gera um enorme potencial de consumo, tornou-se mais perceptível quando o preço de um ingresso passou a comprometer uma maior parcela da renda mensal do torcedor.

 

Nesse sentido, Marcel afirma que com o futebol se tornou mercadológico quando as organizações que o organizam, as instituições e todas as empresas que o veiculam entenderam que seria mais vantajoso separar o público que consome o futebol como um produto.  Foi então com a crescente influência dos patrocinadores, acordos de televisão e empresas de marketing esportivo que os clubes passaram a buscar formas de maximizar suas receitas. Isso resultou em uma alta significativa nos preços dos ingressos, tornando as partidas menos acessíveis para as camadas populares da sociedade. O futebol, que historicamente sempre foi um esporte popular, começou a ser visto como um produto para consumidores com maior poder aquisitivo.

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A separação do públicoMarcel Diego Tonini
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No novo cenário, aqueles que não podiam acompanhar o time no estádio, tinham a TV aberta como alternativa para acompanhar o time do coração. Contudo, a migração das transmissões das partidas para canais fechados e plataformas de streamings que exigem a contratação de planos para ter acesso encareceu até mesmo a opção que parecia ser acessível e o torcedor que se tornou mais interessante foi aquele cliente, o torcedor consumidor. Sendo assim, esse espaço foi criado para explorar essas mudanças e discutir o impacto delas no direito ao lazer do torcedor brasileiro. 

“Essas pessoas podem continuar acompanhando o futebol, elas têm o desejo disso, porém de uma maneira não mais presencial. As pessoas vão consumir a partir de pacotes de Pay per view e as empresas vão ganhar dinheiro com isso, numa escala muito maior do que antes”, completa Marcel.

Maurício Falavigna, de 63 anos, assistiu a jogos em estádios desde os anos 60 e esteve presente em quase toda a campanha de 1977 do Corinthians, ano do título do Campeonato Paulista que marcou o fim do jejum do time de quase 23 anos sem títulos importantes. As finais, por exemplo, são marcos recordes de público, somando aproximadamente 90 mil torcedores em um dos jogos e mais de 140 mil nos outros dois, sendo que as três partidas foram sediadas no Morumbi - estádio que atualmente tem capacidade para 66.795 pessoas.

 

Hoje presente nas arquibancadas mas com bem menos frequência, o corintiano conta que a primeira vez que esteve in loco para acompanhar uma partida foi aos 8 anos de idade. Semelhante ao que foi dito por Marcel nos textos anteriores, a percepção de Maurício é de que foi a partir dos anos 90 que ir ao estádio ficou mais caro, acontecimento que se justifica devido às transformações econômicas e culturais no esporte que ocorreram nessa época e foram influenciadas por mudanças na organização e na comercialização das competições.

 

"Nos anos 70 era mais povão. Era bem popular mesmo, porque os ingressos eram mais baratos..." - Maurício Falavigna, torcedor.

Muito além de apenas falar do ticket ter ficado mais caro, é preciso citar também que o fato das vendas terem passado a ocorrer apenas online e não mais nas famosas bilheterias pode ser entendido como um entrave a mais na aquisição. Nesse sentido, muitos torcedores, especialmente os mais velhos ou de baixa renda, podem ter dificuldades para acessar ou utilizar ferramentas digitais. Somado a isso, a venda online tende a concentrar as compras em momentos específicos, frequentemente causando congestionamento nos sites e aumentando o risco de esgotamento rápido. Com as bilheterias físicas, a compra era um pouco mais distribuída e dava chance para quem chegava cedo ou ia até o local.

 

Para frequentar a Neo Química Arena atualmente, Maurício conta que optou por ser adimplente do Fiel Torcedor Minha Vida e paga aproximadamente 50 reais de mensalidade (valor com acréscimo de dois dependentes ao plano) para ter desconto nos ingressos e preferência de compra diante do público geral.  

 

Exemplos de valores.

INGRESSOS ao longo dos anos

Dizer que o aumento dos ingressos de futebol é relativo faz sentido, já que a percepção do valor depende do poder de compra da população em cada época e principalmente do salário mínimo. O sentimento atual de encarecimento vem em grande parte das mudanças no custo de vida e na estrutura das arenas, que acabam direcionando o público para setores mais caros.


Na década de 1990, por exemplo, o ingresso custava em média entre 5 e 10 reais. Isso significava que um torcedor que ganhava um salário mínimo desembolsava aproximadamente 5% a 10% de sua renda mensal para assistir a uma única partida, o que ainda representava um gasto significativo, apesar de acessível para a maioria.


Recentemente, um fator que gera a sensação de aumento é a segmentação dos preços dentro dos próprios estádios, já que as arenas modernas têm áreas com grandes variações de preço e a existência de setores mais nobres em detrimento dos populares, que são cada vez mais reduzidos. Além disso, nos jogos decisivos, os preços aumentam ainda mais, restringindo o acesso de torcedores de baixa renda.


Exemplos de valores dos tickets de jogos nas décadas passadas:

No regulamento do Campeonato Brasileiro de 1998, por exemplo, um dos artigos previa o valor mínimo de cada ingresso:

​Art. 21º - O preço mínimo a ser cobrado pelo ingresso de arquibancada, nessa competição, será de R$10,00 (dez reais). O referido preço mínimo deverá ser cobrado dos sócios quando o estádio tiver acomodações a eles destinados.

reforma dos estádios

O Relatório Taylor, elaborado em 1990 após a tragédia que ocorreu no Estádio Hillsborough em 1989 e resultou na morte de  96 torcedores em um esmagamento durante uma partida de futebol, foi o que impôs melhorias na segurança dos torcedores nos estádios, incluindo a eliminação das arquibancadas de pé e a transição para assentos numerados em todos os setores. 

 

No entanto, essas reformas elevaram os custos de operação dos estádios, levando ao encarecimento dos ingressos de futebol. Com o aumento das despesas e a substituição das áreas populares de arquibancada por setores mais confortáveis, os clubes passaram a cobrar mais por entrada, restringindo o acesso a muitos torcedores tradicionais, especialmente das classes trabalhadoras, em um processo conhecido como gentrificação dos estádios, pois resultou em um público mais elitizado, mudando o perfil social de quem frequenta os jogos.

“Quando a gente lembra, por exemplo, das imagens das gerais* no Maracanã e em tantos outros estádios no Brasil, a gente está falando de um lugar em que as pessoas assistiam o jogo em grande volume (concentração), uma ao lado das outras, em pé e muito próximo do gramado. Do ponto de vista que se tem hoje, as famosas “gerais” poderiam até não ser os melhores lugares, porém esse torcedor na época podia rodar o estádio (dentro) na geral”. - Marcel

*Setores onde os torcedores assistiam aos jogos de pé, sem assentos numerados e geralmente pagando poucos pelo ingresso.

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O projeto de arenizaçãoMarcel Diego Tonini
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Um grande marco no processo de “arenização” dos estádios no Brasil foi a Copa do Mundo de 2014. A definição do país como sede foi um cumprimento da iniciativa da Federação Internacional de Futebol (FIFA) de levar o maior torneio de futebol entre seleções a outros continentes além da Europa e o anúncio da escolha do Brasil como sede foi feito em 2007 pela FIFA. 

 

Definidas também as cidades onde aconteceriam as partidas - Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo - o próximo passo foi investir na reforma ou na construção de estádios que atendessem aos padrões da FIFA, que impõe requisitos específicos de infraestrutura, segurança, acessibilidade e conforto. 

 

Esses padrões vão desde a capacidade de acomodação até tecnologias de segurança e comunicação. Muitos estádios brasileiros eram antigos e não estavam equipados com as instalações modernas necessárias para receber um evento da magnitude que é uma Copa do Mundo, incluindo sistemas de iluminação avançados, assentos confortáveis, áreas VIP, espaços de mídia e facilidades de acessibilidade para pessoas com deficiência.

 

Segundo publicação de 2010 na página do Ministério do Turismo, no site do gov.br, os estádios passariam a ser arenas multiusos, com a definição de que “Campos esportivos promoverão cultura, turismo, esporte e lazer antes, durante e depois dos jogos”. Para que isso ocorresse, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) dispôs de 4,8 bilhões de reais para custeio de arenas brasileiras com gasto de em média 400 milhões por estádio. Esses empréstimos concedidos pelo BNDES deveriam ser pagos pelos próprios responsáveis pelas arenas, incluindo governos estaduais, municipais e, em alguns casos, consórcios de empresas privadas que administrariam os estádios após o evento no prazo de 15 anos.

 

Após a Copa do Mundo,  a maioria dos estádios utilizados durante o torneio e posteriormente pelos times locais foi além do esporte e passou a receber eventos variados, principalmente shows de artistas musicais. 

Arena Fonte Nova
Arena Fonte Nova
Arena Corinthians
Arena Corinthians
Arena da Amazônia
Arena da Amazônia
Arena Pernambuco
Arena Pernambuco
Arena Pantanal
Arena Pantanal
Arena das Dunas

 

  • Arena da Amazônia (Manaus)

  • Arena Fonte Nova (Salvador)

  • Arena Pantanal (Mato Grosso

  • Arena de Pernambuco (Recife)

  • Arena das Dunas (Natal)

  • Arena Corinthians/Neo Química Arena (São Paulo)

Construídos:

 

  • Arena Castelão (Fortaleza)

  • Estádio Mané Garrincha (Brasília)

  • Estádio Mineirão (Belo Horizonte)

Estádio Beira-Rio
Estádio Beira-Rio
Estádio Maracanã
Estádio Maracanã
Estádio Castelão
Estádio Castelão
Arena da Baixada
Arena da Baixada
Mané Garrincha
Mané Garrincha
Estádio Mineirão

REFORMADOS:

  • Estádio Maracanã (Rio de Janeiro)

  • Estádio Beira-Rio (Porto Alegre)

  • Arena da Baixada/Ligga Arena (Curitiba)

*Alguns desses estádios foram utilizados também na Copa das Confederações de 2013

Inaugurado também em 2014 mas não para a Copa do Mundo, o Allianz Parque, pertencente ao Palmeiras, também é considerado uma arena. Sua estrutura é formada por assentos numerados, tecnologia de iluminação e som, áreas VIP, camarotes e restaurantes. Além disso, ele foi projetado para ser utilizado para a realização de eventos corporativos e hoje é um dos principais locais onde são realizados shows em São Paulo. 

 

O Morumbis, estádio do São Paulo FC, é um dos poucos estádios que manteve suas características originais e ainda preserva setores com ingressos mais acessíveis que acomodam um grande número de torcedores, apesar de ter também áreas destinadas a quem deseja mais conforto e não se opõe a pagar mais caro.

 

Já a Vila Belmiro, que pertence ao Santos FC, também poderia ser um exemplo de exceção à arenização, já que é um estádio de pequeno porte inaugurado em 1916 que possui poucos setores VIP ou camarotes e mantém arquibancadas com áreas acessíveis para torcedores de diferentes perfis. Entretanto, está em projeto a construção da Nova Vila Belmiro que além do aumento da capacidade de público terá mais camarotes, venda de cadeiras e espaços comerciais, mudanças que a transformarão em arena multiuso. 

"A gente como torcida organizada e como órgão fiscalizador do clube também pede pro clube olhar com carinho e atenção pro seu maior patrimônio, que é a torcida, em relação a um setor popular dentro do estádio" - Presidente da Torcida Jovem 

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A atual Arena Mercado Livre PacaembuMarcel Diego Tonini
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Os antigos estádios de futebol geralmente não possuíam camarotes como os vemos hoje. A estrutura tradicional era focada em acomodar grandes números de torcedores nas arquibancadas e setores gerais. Alguns estádios mais antigos até tinham áreas exclusivas para autoridades, mas eram setores limitados. Com a modernização dos estádios e a criação das arenas multiuso, os camarotes foram introduzidos como uma fonte adicional de receita. Esses espaços que oferecem conforto, serviços exclusivos e visão privilegiada do campo passaram a ser alugados também por empresas e para pessoas com maior poder aquisitivo.

VALORES DOS CAMAROTES: 

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Arte de própria autoria.

FANATISMO

Os fanáticos por futebol são caracterizados pela paixão intensa pelo time e, muitas vezes, nem mesmo o alto valor dos ingressos é capaz de distanciá-los do clube do coração. Para eles, apoiar o clube vai além de assistir aos jogos: é uma expressão de identidade e pertencimento que muitas vezes os faz transformar a ida em jogos uma prioridade na vida.

 

O desejo de estar perto do Santos foi o que fez Bruno Prates dos Santos, de 22 anos, mudar-se sozinho para a baixada santista em 2024. Ele conta que a paixão pelo time foi passada por seu pai e que desde que foi ao estádio pela primeira vez, em 2009, criou gosto por viver a atmosfera do lugar. 

 

Para Bruno, ter a facilidade de ir a pé à Vila Belmiro, estádio do time, possibilita que ele assista aos jogos sem ter que enfrentar viagens de ônibus saindo da capital paulista, como fazia antes.

“Quem mora em São Paulo, tem muitos jeitos de ir e cada um gasta diferente do outro. Se você vai com ônibus de rodoviária, tem um gasto diferente de quem vai de carro e paga além do pedágio, que é caro, a gasolina. Eu utilizava na maior parte dos jogos o ônibus de sócio torcedor, que libera algumas vagas para sócios irem de graça. Porém, quando não havia esse ônibus, o gasto era de mais ou menos 110 reais para ir e voltar.” - Bruno

Figura confirmada na arquibancada santista, em 2024 ele foi a todos os jogos do Santos na Série B do Campeonato Brasileiro (são ao todo 38 rodadas), seja na Vila Belmiro ou nos estádios adversários quando o Santos é visitante. No Campeonato Paulista, Bruno só não foi nas partidas que eram de torcida única* e no duelo contra o Guarani, “Só não fui porque prometi que não perderia o aniversário do meu avô”, afirma. 

*Desde 2016 o Ministério Público de São Paulo instaurou torcida única nas partidas em que Santos, São Paulo, Corinthians e Palmeiras se enfrentarem. Nessas ocasiões, a torcida é apenas do time mandante. 

Para estar em todos os jogos, os gastos são consideráveis. Como é sócio-torcedor Plano Gold do Sócio Rei, Bruno contou que paga 45 reais de mensalidade e isso lhe dá direito a 75% de desconto nos ingressos na Vila Belmiro, pagando normalmente de 25 ou 30 reais em cada jogo. 

“Para quem não é sócio, os ingresso vão de 80 a 160 reais, fora a taxa do site. Nos últimos anos, os ingressos eram muito mais baratos e com meu desconto de 75% eu pagava de 5 a 10 reais nos ingressos mais baratos.” - Bruno

INGRESSOS

Divulgação: Santos F.C

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Santos x Fortaleza - 38ª rodada

Brasileirão Série A (13/11/2022

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Santos x Fluminense - 36ª rodada

Brasileirão Série A (29/11/2023)

Santos x Vila Nova - 35ª rodada

Brasileirão Série B (02/11/2024)

Bruno conta também que no ano passado, quando já estava acompanhando o Santos em todos os jogos, viajou de ônibus a Belo Horizonte para assistir o jogo contra o Atlético-MG na inauguração da Arena MRV e pagou 300 reais no ingresso.

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Para falar do valor para público geral na Vila Belmiro, Bruno usou o primo como exemplo:

“No jogo contra o Mirassol, meu primo veio da zona norte de São Paulo junto com a esposa assistir e gastou 154 reais no ingresso dele e 77 reais no dela (que tinha direito de meia entrada) para ficar em um setor comum do estádio.”- Bruno

Fotos: arquivo pessoal.

Além dele, o palmeirense Guilherme Nunes Diniz, de 22 anos, também dá ao futebol uma grande importância em sua vida.  Apesar da primeira vez dele no estádio ter sido em 2017, desde de 2022 ele está presente em todos os jogos no Allianz Parque, independente do campeonato em disputa. Para ter facilidade na compra do ingresso, ele paga 260 reais de mensalidade no Sócio Avanti Plano Platina e  com isso os ingressos para as partidas são gratuitos em quase todos os setores, exceto Central Leste e Central Oeste

“A partir da reforma do estádio do Palmeiras, os ingressos já aumentaram o preço por ser uma arena moderna e referência para eventos. No entanto, houve um aumento ainda maior com as últimas duas presidências (Galiotte e Leila), pois montaram elencos caros e sempre afirmaram que precisam equilibrar contas para manter as finanças.” - Guilherme

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Valores para Palmeiras x Grêmio, pelo Campeonato Brasileiro Série A (08/11/2024). Divulgação: S.E Palmeiras

Guilherme conta que já assistiu jogos em todos os setores do Allianz Parque que são gratuitos devido ao plano que ele assina. A vez em que pagou ingresso foi na partida contra o Fortaleza em novembro de 2022, quando comprou no setor Central Leste.

% = desconto

Pessoas não sócias pagam o valor informado na primeira coluna.

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Valores para Palmeiras x Fortaleza, pelo Campeonato Brasileiro Série A (02/11/2022). Divulgação: S.E Palmeiras

“Sim, o público está elitizado devido aos ingressos caros e boa fase do clube. A percepção de todos que frequentam o Allianz é que apenas a torcida organizada realmente faz a festa o jogo inteiro, enquanto outros setores cantam apenas em momentos em que o time está pressionando e cria boas chances. Não faço parte da Mancha Verde, mas na grande maioria dos jogos estou no mesmo setor, inclusive usando artigos para padronização.” - Guilherme

Fotos: arquivo pessoal.

ENQUETE

Quer fazer parte da nossa pesquisa? Basta responder o questionário abaixo:

Ficha do torcedor

Idade
Menos de 18 anos
Entre 19 e 25 anos
Entre 26 e 35 anos
Entre 36 e 45 anos
Entre 46 e 59 anos
60 anos ou mais
Já assistiu a um jogo do seu time em estádio?
Sim, mas poucas vezes
Sim, assisto frequentemente
Sim, vou sempre que posso
Nunca fui
É sócio-torcedor?
Sim
Não
O que te impede de frequentar ou diminui a quantidade de vezes que frequenta estádio?
Na sua opinião, qual deveria ser em média o valor de um ingresso?
Entre 30 e 40 reais
Entre 50 e 70 reais
Entre 70 e 90 reais
Estaria disposto a pagar qualquer valor para assistir o meu time em estádio

direito de transmissão:
da tv ao streaming

Quando pensamos na transmissão do futebol, logo vem em mente o canal Globo, que por muito tempo foi responsável por transmitir muitos clássicos do esporte. Mas o que talvez muitas pessoas não saibam é que o YouTube, uma plataforma gratuita, já transmitia alguns jogos em 2015. O Google, proprietário do site, adquiriu os direitos de transmissão da Copa do Rei, que é uma das principais competições da Espanha.

 

Na pandemia, novas plataformas aceleraram essa transformação. Em 2022, muitos clubes começaram a explorar novas maneiras de se conectar com os torcedores, e o Streaming ganhou força como uma alternativa viável. Com mais pessoas em casa, assistir a jogos pela internet se tornou uma maneira prática de acompanhar as equipes, seja pelo computador, celular ou smart TV.

 

Hoje, não é mais necessário se limitar a um único canal; os torcedores têm acesso a uma variedade de plataformas. Isso não só democratiza o acesso aos jogos, mas também permite que os clubes alcancem públicos que antes poderiam estar fora de seu alcance. O futebol feminino, por exemplo, começou a ganhar mais espaço nas transmissões, refletindo um crescimento significativo no interesse por essa modalidade.

 

O maior torneios do país, o Brasileirão, é um exemplo do fim da exclusividade de transmissão da Globo. Além dele, a também relevante Copa do Brasil hoje tem os direitos vendidos também para a Amazon Prime.

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A cobertura televisiva do Campeonato Brasileiro é uma que vai mudar a partir de 2025. Com esse novo acordo, os principais times do futebol brasileiro estão divididos em LFU (Liga Forte União) e Libra e cada um desses dois blocos terá um canal aberto e um fechado (pago) que transmitirá os jogos. 

Além disso, o YouTube confirmou a compra dos direitos de transmissão em um acordo com a Liga Forte União (LFU) e com isso colocará as partidas também na CazéTV, canal que já transmitiu a Copa do Mundo de 2022, a Copa do Mundo Feminina em 2023, e as Olimpíadas de Paris 2024.

A Libertadores da América, maior torneio do continente, e a Sul-Americana são exibidos pelo SBT na TV aberta e pela Fox Sports na TV fechada. A Champions League também passou para as mãos do SBT e agora está disponível no streaming pela HBO Max. Por fim, nem mesmo a competição mais importante do mundo da bola, a Copa do Mundo, tem a exclusividade da Globo, 

 

O legal é que, com essas mudanças, os torcedores podem interagir de maneira mais próxima. Muitos clubes estão investindo em conteúdos exclusivos e transmissões interativas, onde os fãs podem participar de enquetes, assistir a entrevistas e até interagir nas redes sociais durante os jogos. 

Entretanto, o acesso ainda pode ser um desafio para algumas pessoas. A necessidade de assinar diferentes serviços de streaming pode ser uma barreira. Por isso, é importante que as ligas e os clubes continuem buscando novas formas de tornar as transmissões mais acessíveis, garantindo que todos possam torcer por suas equipes favoritas.

PLANOS SÓCIO TORCEDOR

Ser um sócio torcedor muitas vezes proporciona uma sensação de pertencimento à comunidade do clube. Os torcedores se sentem mais conectados ao time, participando ativamente da vida do clube e contribuindo para seu crescimento financeiro. Para muitos, esse investimento é uma forma de valorizar a história e a tradição do time, especialmente em um cenário onde os grandes clubes investem para que o torcedor tenha mais contato com o clube.

 

Os planos de sócio torcedor variam bastante entre os clubes, refletindo não apenas a realidade econômica dos torcedores, mas também a estratégia de cada time. Por exemplo, o Corinthians oferece opções que vão desde o acesso a ingressos com descontos e conteúdos exclusivos até experiências mais imersivas, como visitas ao memorial, e destaca a possibilidade de acumular pontos que dão prioridade na compra de ingressos. O São Paulo, por sua vez, oferece desconto em ingressos, e a cada renovação anual do plano o torcedor ganha um kit com itens exclusivos, tem prioridade em compra de ingressos e tem a possibilidade de acumular pontos que podem ser trocados por recompensas, isso acaba fazendo com que torcedores busquem potencializar seu investimento.


Por outro lado, o Palmeiras tem seis categorias de planos diferentes com cada plano oferecendo uma porcentagem diferente de desconto em ingresso e, dependendo do plano, você também consegue ter prioridade na compra. Já o Santos, com sua rica história e legado, conta com três tipos de planos, sendo eles o Silver, Gold e Black. A diferença do Santos para os demais times é que ele oferece o plano com valores diferentes para homem, mulher e jovens abaixo de 18 anos, isso ajuda a aproximar ainda mais a torcida do clube.
 

Planos dos times paulistas

Cambistas

Não tem como falar sobre a elitização do futebol sem mencionar os cambistas, pois eles fazem parte desse ciclo de exclusão. Quando os ingressos para os jogos ficam inacessíveis para a maioria da torcida, seja por causa da alta demanda ou pela venda antecipada para grupos privilegiados, muitos torcedores acabam sendo forçados a recorrer aos cambistas. Esses vendedores, que costumam estar nas portas dos estádios, não só aumentam os preços, como também impedem que quem realmente ama o esporte, mas não tem dinheiro suficiente, consiga assistir aos jogos. Ao revender ingressos por valores exorbitantes, os cambistas contribuem para que o futebol se torne, cada vez mais, um espetáculo para poucos, afastando os torcedores de origem humilde e transformando a paixão pelo esporte em algo reservado a quem pode pagar mais.

 

O cambismo está diretamente ligado a uma mercantilização crescente do futebol, onde o esporte, que sempre foi a alma de uma nação, passa a ser visto mais como um produto de luxo do que como uma festa popular. Embora muitos países proíbam a revenda de ingressos por preços acima do oficial, a fiscalização é falha e o cambismo continua sendo uma prática comum. O sistema de vendas não acompanha a rapidez com que os ingressos se esgotam e acabam sendo revendidos no mercado paralelo. Com isso, os torcedores que têm menos condições financeiras acabam se vendo à favor dos cambistas ou simplesmente fora do jogo.

 

Para tentar combater esse problema, alguns clubes e ligas estão adotando medidas como a venda de ingressos personalizada, vinculada ao CPF do torcedor, ou até o uso de tecnologia para rastrear ingressos revendidos ilegalmente. Em alguns casos, limitam até mesmo o número de ingressos que uma pessoa pode comprar. Porém, essas ações ainda têm muito caminho pela frente, e, enquanto isso, o cambismo segue alimentando um ciclo de exclusão, que faz com que o futebol deixe de ser o esporte do povo e passe a ser um produto de consumo exclusivo para os que podem pagar.

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Créditos: NaniHumor.com

Futebol feminino

É importante destacar o crescimento do futebol feminino. Jogos masculinos tem tendência a ser mais caros e não tão acessíveis mas, em muitos clubes, os ingressos para partidas femininas são bem mais baratos do que os do time masculino e isso pode ser um atrativo para um público mais amplo e diverso. Essa acessibilidade não apenas permite que mais torcedores acompanhem suas jogadoras favoritas, mas também é uma oportunidade do torcedor conhecer o estádio do seu time – normalmente apenas as partidas decisivas ocorrem no estádio oficial; as demais são em outros campos

 

O contraste entre os preços dos ingressos e a experiência oferecida no futebol feminino em relação ao masculino levanta questões sobre como valorizar e desenvolver essa modalidade. À medida em que os clubes investem mais em suas equipes femininas, é fundamental que a torcida tenha acesso a essas partidas de maneira acessível, fortalecendo a base de fãs e contribuindo para o crescimento do esporte. Isso não apenas enriquece a cultura do clube, mas também ajuda a mudar a narrativa em torno do futebol feminino, promovendo uma visão mais equitativa dentro do cenário esportivo.

Imagens: Divulgação.

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afinal, O FUTEBOL está ELITIZADO ou não?

Em partes. Além de apenas falar que o futebol passou por elitização, é preciso considerar os fatores que levaram ao aumento nos custos, os quais foram citados ao longo da reportagem: a explosão dos direitos de transmissão, os contratos publicitários e patrocinadores, os altos salários dos jogadores com transferências milionárias, a modernização dos estádios e também os custos com a manutenção, todos aspectos resultando no encarecimento da experiência. 

Entretanto, ao comparar os valores dos ingressos com décadas passadas, é importante considerar também a inflação e os salários médios de cada época, que fazem com que o público sinta o encarecimento principalmente devido à diminuição do poder de compra. Dessa forma, o aumento nos preços dos ingressos e dos produtos relacionados ao esporte, como camisas e serviços dentro dos estádios, e a nova oferta de experiências cada vez mais caras em camarotes e áreas VIP ressignificaram o futebol e criaram áreas reservadas a poucos. 

 

Porém, independentemente de todos os fatores citados o futebol continua sendo um dos esportes mais amados por torcedores de todas as classes sociais e são muitos os torcedores não medem esforços ou gastos para estarem perto do time do coração.

quem somos:

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Giovanna Lameiras

Apaixonada por futebol desde criança, levei o esporte como motivação na escolha de estudar Jornalismo e assim poder realizar, através da comunicação, o sonho de viver de perto o que acontece no campo e na paixão das arquibancadas. 

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Rebeca Cardoso

Encantada pelo poder da comunicação e pelas histórias que ouço, escolhi o jornalismo como caminho para levar informação de qualidade para as pessoas, pra mim cada história é uma oportunidade de aprender, conectar e me inspirar.

Esta plataforma interativa foi produzida para a disciplina Reportagem Multimídia, do curso de Jornalismo da FAPCOM (Faculdade Paulus de Comunicação). Orientação: Profa. Rita Donato.

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